Nesta edição, a Coluna “Fique por Dentro” recebe os professores Célia Marisa Rizzatti-Barbosa e José Ricardo de Albergaria-Barbosa, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP-UNICAMP) e escritores do livro “Toxina Botulínica na Odontologia” para falar em detalhes sobre a mais nova especialidade do momento: a Harmonização Oro Facial (HOF), reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) em Janeiro deste ano através da resolução CFO-198/2019.
Dayane Oliveira: Especialização em Harmonização orofacial: o que é essa nova especialidade?
Célia Rizzati & José Ricardo: Eu acredito que esta seja uma grande e promissora vertente que se abre à Odontologia. Além de criar muitas possibilidades de intervenção complementares a nossa profissão, permite que o cirurgião-dentista estabeleça, de modo pleno, o que já sabemos executar com propriedade: a estética. Antes, apenas bucal. Agora, com uma qualidade mais abrangente, envolvendo a face e estruturas anexas, com as suas competências. Não podemos, de maneira alguma, desvincular as qualidades dos fármacos utilizados como ferramentas estéticas, de todas as suas propriedades terapêuticas, como é o caso da toxina botulínica. São inúmeras as utilizações deste poderoso fármaco na Odontologia. Em nosso livro Toxina Botulínica em Odontologia, exploramos diversas situações em que a toxina botulínica proporciona conforto e qualidade de vida aos pacientes portadores de Disfunção Temporomandibular, bruxismo, sialorreia, cefaleia tensional, Implantodontia, nevralgia do trigêmeo, dentre outros. Então, desde que o Conselho Federal de Odontologia, em janeiro (2019), definiu a Harmonização Orofacial como especialidade da Odontologia, instituiu uma competência que já possuímos, e que temos plena capacidade de realizar. Basta assimilar alguns novos conceitos àquilo que já aprendemos em nossos cursos de graduação, e praticar, praticar e praticar. Nós temos dois cursos de especialização em andamento na cidade de São Paulo e outros dois em fase de implantação no interior do estado. Isso, acreditamos, é uma grande evolução para a nossa profissão, e consideramos que outras instituições devam acreditar nessa proposta como uma importante fase para a Odontologia.
Dayane Oliveira: O que ela traz de novo ou de vantagens para a Odontologia em questão de novos tratamentos e/ou auxílio em tratamentos existentes?
Célia Rizzati & José Ricardo: Em relação aos tratamentos odontológicos, os recursos da Harmonização Orofacial permitem que o dentista complemente a terapia através dos diferentes tratamentos que a mesma oferece. Um exemplo bastante simples seria o uso dos produtos para reduzir gordura submentoniana e submandibular como auxiliar ao tratamento de apneia do sono. Ou ainda, a redução de saliva presente no processo de desintubação de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva. E também, o auxílio no controle da dor e hiperatividade muscular aos portadores de DTM e bruxismo, ou na redução dos sintomas das Nevralgias. E ainda, a complementação estética aos diferentes tratamentos odontológicos. Eu trabalhei muitos anos com reabilitação protética, e, em muitas ocasiões, não me sentia totalmente realizada com o resultado estético-funcional da prótese concluída. Vejo que, muitas vezes, o mesmo acontece com outras terapias como Ortodontia, Ortopedia funcional e cirurgia ortognática. Hoje percebo o quanto a Harmonização Orofacial con- segue, enquanto tratamento, complementar os recursos da Odontologia, incrementando a qualidade do tratamento odontológico. Digo que, quando realizamos uma reabilitação oral ou outro tratamento odontológico, pintamos um quadro. Quando completamos o tratamento odontológico com a Harmonização Orofacial, colocamos a moldura do quadro. Em minha concepção, não faz mais sentido “pintar o quadro” sem colocar a “moldura”. Da mesma forma, não existe nenhuma coerência em colocar “moldura” se o “quadro” não estiver concluído. Gosto sempre de citar o maior médico cirurgião plástico do Brasil, e um dos melhores do mundo, o Dr. Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy, quando afirmava que era impossível fazer um tratamento estético adequado através da cirurgia plástica, se os dentes não estivessem em boas condições. Também acho o mesmo. E afirmo que a qualidade da intervenção odontológica nunca mais será a mesma quando os recursos da Harmonização Orofacial forem devidamente utilizados.
Dayane Oliveira: O que um aluno deve aprender na grade curricular desse curso?
Célia Rizzati & José Ricardo: Além dos conhecimentos da área odontológica, deverá conhecer as condições fisiológicas de todos os tecidos de compõe a face, dentro de nossa área de atuação. Além disso, deverá dominar plenamente os eventos relacionados ao envelhecimento, à perda de dimensão vertical, e às transformações inerentes às patologias que possam ser controladas pelos recursos da Harmonização Orofacial. Através do conhecimento daquilo que é normal e fisiológico, é possível compreender as propriedades e limitações dos diferentes recursos a serem empregados, no sentido de prevenir ou diminuir os efeitos e consequências dos pontos nos quais se quer intervir. Acredito que, somente pelo conhecimento daquilo que é natural e normal, fica possível definir um diagnóstico e estabelecer um plano de tratamento que culminará no resultado almejado. O aluno deverá também dominar os materiais, técnicas e protocolos estabelecidos para cada intervenção proposta, suas indicações e containdicações, saber como intervir nas diversas intercorrências e conhecer os efeitos dos produtos utilizados, seja a longo, médio ou curto prazos.
Dayane Oliveira: Antes de determinadas as regulamentações da utilização de tratamentos em gerais para harmonização orofacial muito se discutiam sobre o que era competência do dentista ou não. Então, quais são as competências e as limitações de atuação dessa especialidade?
Célia Rizzati & José Ricardo: As competências são as mesmas daquelas norteadas pelo Conselho Federal de Odontologia, quando se refere à boa prática odontológica, dentro dos limites de nossa área de atuação. Ao cirurgião-dentista cabe seguir as normativas estabelecidas, sem perder, no entanto, a liberdade que tem garantida pela legislação. É preciso compreender que, todo procedimento realizado dentro da ética e com responsabilidade, será útil à população e jamais será agravado por qualquer recurso que não seja condicional à boa prática odontológica.
Dayane Oliveira: Com a implementação do curso de especialização em harmonização orofacial, é importante que as faculdades integrem disciplinas com intuito de prover conhecimento básico mínimo nessa área?
Célia Rizzati & José Ricardo: Sem dúvida. As Instituições de ensino superior precisam compreender que, assim como ocorreu com a Implantodontia, a Harmonização Orofacial tenderá a se firmar na grade curricular como uma disciplina necessária à formação do cirurgião-dentista. Quando fui docente na Universidade Estadual de Campinas, implementei uma disciplina optativa, na qual eram oferecidos alguns tópicos da Harmonização Orofacial aos alunos do último ano da graduação. Nossos resultados e aceitação pelos alunos foram fantásticos! Inclusive recebemos, por essa iniciativa, um prêmio de reconhecimento da diretoria do CONTOX, o que muito nos motivou. Temos visto, em outras instituições de ensino superior, esta mesma preocupação, o que, para nós, é necessária e fundamental.
Dayane Oliveira: Com a implementação do curso de especialização em harmonização orofacial, o que esperar dos cursos de curta duração sobre tópicos envolvendo harmonização orofacial?
Célia Rizzati & José Ricardo: Os mesmos continuarão a existir e a cumprir com os seus objetivos, assim como se observa em outras especialidades odontológicas. Temos diversos cursos de curta duração que oferecemos em todo o Brasil, com muita aceitação, pois, mesmo já praticando a Harmonização Orofacial, o dentista necessita consolidar novos conhecimentos que vão surgindo dentro desta ampla área de atuação que agora se descortina dentro da Odontologia.
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